Maria do Carmo tinha dificuldade em lidar com seus sentimentos. Ela era uma pessoa muito afoita na forma como ela expunha os seus afetos para as pessoas. Seja amando alguém, seja o contrário, Maria do Carmo sempre cometia ações impulsivas. Não era o forte de Carminha dialogar com sua fraqueza.
Foi devido a essa impulsividade que Maria do Carmo quando mais jovem, teve sérios problemas quando o assunto se tratava de relacionamento conjugal. Sua mãe como forma de acalentá-la, dizia que um dia ela aprenderia a lidar com as perdas. Seu pai dizia a ela para sempre estar cientes de suas ações para que ela não fosse consumida pela culpa, afinal, ele sempre lhe dizia que a vida era curta.
Maria do Carmo conheceu Eugênio e sempre teve uma admiração por ele, e se lembrando das palavras de seu pai, não quis perder tempo com questões que implicassem um possível cansaço na relação dos dois, afinal, vez ou outra exercitava trazer à tona a velha frase: a vida é curta. Lembrava-se das palavras de sua mãe e passou a entender que a vida é linda por ser feita de mudanças.
Hoje em dia Maria do Carmo está casada com Eugênio há 43 anos. Nem sempre esses anos foram plenamente fáceis para Maria. Comportamentos de Eugênio a irritavam bastante, mas ela foi deixando se levar para sentir de forma mais serena a alegria de ter alguém de seu lado.
O nascimento de seus filhos provocou um novo pulsar na vida dos dois. Não é que a vida estava ruim, mas havia um quê de necessidade de ambos em quebrar alguma coisa naqueles cotidianos. Maria e Eugênio presenciaram muitas alegrias e tiveram muita raiva das traquinagens de suas queridas crias.
Aproveitaram seus filhotes o máximo que puderam como ainda aproveitam. Ficavam orgulhoso do simples fato de ver os filhotes dando tchau ao entrarem na escola, à aprovação do vestibular, à formatura. Maria ouviu muitas lamurias de seus filhos sobre seus relacionamentos conjugais e como uma boa mulher amadurecida pela vida, ela passava a seus filhos as lições que ela havia aprendido com seus pais.
Hoje, depois de ter regado o jardim em frente a sua casa, Maria cansada se sentou no banquinho justamente na hora que eu passava pela sua calçada. Ao olhar me deu bom dia. Comentou que eu precisava cortar as pontas do meu cabelo, pois elas estavam quebradas e perguntou como eu estava. Comecei a contar sobre os meus projetos e em silêncio Maria me ouvia. Depois de tudo, me desejou boa sorte.
Antes de eu ir embora, Maria me disse que o importante na vida era sempre buscar formas de encontrar caminhos mais fáceis para nos sentirmos bem com nós mesmos. Ela me disse que na vida não deveríamos carregar qualquer espécie de culpa, pois assim como dizia o seu pai, a vida era curta demais.
Eu fiquei feliz com as palavras de Maria. A vida de Maria sempre foi cheia de surpresas cotidianas, e por isso mesmo ela precisava regar todas as manhãs as frondosas flores de seu jardim enquanto Seu Eugênio ficava lá sozinho no fundo da casa em sua cadeirinha de balanço assoviando ouvindo seu programa de rádio preferido.
A vida de Maria sempre foi cheia de encantos, afinal, ela evitava guardar culpas e dizia que era velha e que se pudesse fazer muita coisa diferente, ela voltaria o tempo e corrigiria muitas de suas ações e palavras mal colocadas que só fizeram machucá-la e machucar os outros.
Carminha sempre foi confiante e a sua vida sempre foi tranquila. Maria se senta em seu banquinho, delicia-se com suas rosas, espera telefonemas de seus filhos. Cria expectativas por sempre questionar a si mesma, a certeza do amor deles em relação a ela. Maria não carrega culpa e espera muita coisa. Maria aproveita a vida. Maria ama seu esposo, ama a sua vida, vive tranqüila.
Realmente fiquei muito feliz com as palavras de Maria, afinal, Maria sabe que está velhinha, mas sabe que a maturidade lhe ensinou a viver feliz, sem culpas, consciente de suas ações. Amanhã passarei na casa dela e me depararei, quem sabe, com seu jardim brotando apenas saudades de um tempo que, apesar de carregado de surpresas, não se faz pleno.
Maria diz que sabe viver. Maria é feliz.
Meu caro vina,
ResponderExcluirSalve Maria!