Quero falar sobre a utilização das músicas consumidas pelo povo nas rádios públicas. Ao falar de rádios, estou me referindo especificamente as fm´s. Tentarei responder as seguintes problemáticas: qual o setor social responsável pela organização das músicas executadas nessas rádios? Essas músicas também atendem a uma escuta dos setores desprestigiados da sociedade? Como se define o conceito de cultura e de bem público para esse setor social responsável pelo repertório dessas rádios?
Ouvimos críticas às rádios comerciais que dizem respeito ao objetivo dessas rádios voltado unicamente para o lucro, a exclusão dessas rádios em relação à diversidade musical, dentre outras. Compactuo com todas essas críticas, mas eu pergunto: as rádios públicas são democráticas? Será que há de fato uma absorção dessas rádios no que diz respeito às diversidades encontradas na música? Para mim, a democratização musical nas rádios públicas está longe de acontecer.
Para os possíveis leitores apressados, não estou afirmando que todos esses indivíduos que selecionem os repertórios e que executam as músicas nessas rádios não estejam preocupados com a pluralidade musical, no entanto, eu pergunto: como esses indivíduos geralmente enxergam as músicas mais consumidas pelo povo? Essas músicas frequentemente estão nas grades de programação dessas rádios? Qual a visão deles sobre cultura? Como eles definem o conceito de público?
Se observarmos bem, as músicas geralmente executadas pelas fm´s das rádios públicas são músicas consumidas em sua maior parte pelos ditos setores intelectualizados da sociedade. Quando se toca uma canção de um artista proveniente do povo, é por que a canção já se encontra legitimada pelos oficializadores do gosto representado pelos setores universitários e usurpada por eles para fazer parte de seus Museus Intocáveis. Retomo minha pergunta: como é vista a cultura por esse setor?
Apesar de muitos insistirem no discurso de que o popular, o erudito e a cultura de massa se encontram mesclados, socialmente essas culturas ainda insistem em se manter distintas e associadas a questões de classe. Infelizmente boa parte da chamada elite intelectual insiste na classificação de que uma “boa” cultura se faz através da música de “qualidade”. Certo, mas essa “qualidade” é para quem? Essa cultura é apenas dos setores intelectualizados? E a visão de público? Onde fica?
Pelo que eu entendo, o público diz respeito a um espaço no qual as diferenças se encontram e dialogam entre si. O público está reservado para todas as pessoas. Qualquer indivíduo situado em uma arena social tem o direito de consumir e freqüentar um espaço público. Mas ai eu pergunto: se uma fm pública se nega a executar em sua grade de programação músicas do Arrocha, por exemplo, não estaria excluindo os ouvintes que também fazem freqüentam e dialogam com a esfera pública?
Acredito que o papel das rádios públicas é apresentar a riqueza pertencente ao repertório musical brasileiro como forma de fazer com que os ouvintes estejam sempre atualizados com essa diversidade. Para isso, é importante que ela busque atender a todos os gostos musicais, afinal, todos os cidadãos contribuem com seu papel na sociedade. Inclusive, a abertura a uma diversidade de estilos possibilita um caminho para um olhar menos intolerante e mais plural.
Para finalizar, gostaria de dizer que era do meu interesse prolongar esse debate, mas para não tornar o texto denso de problemáticas, preferi deixar apenas essas opiniões para esta semana. Contudo, futuramente eu farei uma abordagem acerca da importância e dos ganhos sociais que para mim as rádios públicas poderiam estabelecer com as escolas de educação básica, principalmente com as escolas estaduais onde se concentra um maior universo de setores socialmente desprestigiados.
Texto de fôlego, caro amigo. Mas me lembro de que você mesmo já tinha me dado uma resposta satisfatória a este impasse: uma vez que as rádios privadas têm como ponto central de sua programação as músicas de massa, por que não priorizar ao menos nas públicas as que alcançam menor número de ouvintes?
ResponderExcluirMas a partir de sua nova questão começo, de fato, a requestionar tal concepção. Ainda pretendo pensar mais um bocadinho nisto.
Parabéns pela sagacidade na escolha do tema!
Josua
ResponderExcluirUma coisa é sabermos que as musicas massivas ganham muitos espaços nas midias, outra coisa é aceitarmos que as rádios públicas façam a mesma coisa só que ao contrário. Elas poderiam até priorizar menos essas músicas nas grades já que os seus ouvintes têm a oportunidade de ouvir suas músicas em outros meios a mais. Porém, que se distribua as músicas nas grades de programação de forma mais democrática ou se tire o nome de rádio pública, ou então vamos refazer o conceito de público.
Devemos lembrar que as músicas do povo não se resumem apenas as músicas massivas empurradas nos grandes meios de comunicação. Quantos artistas oriundos de setores subalternizados se encontram sem espaço nas midias e estão aí sem oportunidades de empurar seu trabalho nas rádios ganaciosas por luvros? As rádios públicas estão ai para isso: elas têm que se preocupar em incluir as diversas expressões de todo um social sem distinções.
Outra coisa: se as radios publicas fossem de fato públicas, pense no quanto a sociedade ganharia, afinal, os excluidos se sentiriam pertencidos na arena pública por ouvir músicas as quais eles se identificam e om o estímulo à diversidade poderiamos fazer com que pessoas excluidas de todo um sistema pudessem conhecer novos horizontes musicais.
abraços
"Quantos artistas oriundos de setores subalternizados se encontram sem espaço nas midias e estão aí sem oportunidades de empurar seu trabalho nas rádios ganaciosas por luvros? As rádios públicas estão ai para isso: elas têm que se preocupar em incluir as diversas expressões de todo um social sem distinções. "
ResponderExcluirPerfeito! Ótima observação!
Não sei. Seria interessante dados empíricos que comprovassem essa possível miscigenação derivada de uma pluralização de estilos. E se o ouvinte viciado dissesse: "eu não ouço essa rádio, pois toca aquelas músicas de roqueiro/maconheiro/universitário", bem como, num outro extremo: "...pois toca aquelas músicas do povão", não acabaríamos por voltar ao mesmo impasse?
ResponderExcluirLou
ResponderExcluirConcordo plenamente com você,inclusive sua observação pode servir para mais uma problematização em um texto futuro.
No entanto eu penso assim: pagamos impostos, fazemos circular moedas, geramos riquezas ao país com o nosso trabalho. Tudo isso faz eu, o ouvinte do reggae, do arrocha, do rap e de qualquer estilo musical existente. Aí eu pergunto: se uma rádio exclui as músicas consumidas pelo povão, por que dizer que ela é pública? Pública para quem?
Exato...
ResponderExcluirOra, o fato de ser público não necessariamente deveria conotar uniformização na distribuição dos gostos/habitante entre o tempo de execução.
ResponderExcluirSe assim o fosse, tendo 90% da população que é ouvinte de Axé, Pagode e Arrocha, e 10% de outros ritmos, hipoteticamente, e dividissemos os horários em conformidade com esta estatística, isto acarretaria noutro monopólio. A esfera pública pode, também, sem ser necessário se que perca o sentido do que pretende, servir como ferramente de inclusão. Não penso que a música de massa mereça mais espaço do que o que já possui.
Lou,
ResponderExcluirOlhe, concordo plenamente com a sua pessoa quando atenta para o monopólio das músicas de massa, mas é como eu falei no comentário que fiz pra Josua: não significa dizer com isso que a rádio pública tenha que cometer a mesma exclusão.
Vejamos: então se um rico que tem dinheiro pra pagar cinemark e comer bigmac pode ter outros tipos de lazer além das praças públicas, significa dizer que com isso as praças devam ser transitas apenas para aqueles que não detêm o monopólio do entretenimento, ou seja, o pobre? Parece meio absurdo esse exemplo mas é a mesma coisa ao você observar que os pobres já possuem o monopólio de suas musicas em outros meios e que por isso mesmo não precisam ter suas musicas nas radios publicas.
E mais: como eu disse, existem setores excluidos que estão excluidos do mercado com suas bandas anônimas indiferentes às rádios comerciais e a rádio pública tem esse papel: abrir possibilidades de servir de canal para diversas outras formas de expressão independente de qual gênero musical venha a representar. Além disso, seria interesantissimo essas pessoas consumidoras geralmente das radios massivas terem acesso a essas rádios pois a partir delas elas poderiam conhecer outros horizontes musicais, ja que as radios comerciais infelizmente não possibilita que os ouvintes possam querer dialogar com outras estéticas. Por exemplo: quantos não poderiam conhecer o seu som e passar a consumi-lo por terem tido o espaço para consumirem as musicas deles que eles ja conheciam além de outros estilos que possam ser promovidos para eles?
Lembre-se rádio publica é publica. Do contrário se tire o nome de publica ou se reformule o que achamos ser público.
Errado. O meu exemplo seria melhor comparado se dissesse sobre construir praças públicas em bairros periféricos para compensar a ausência de shoppings.
ResponderExcluirQuanto aos outros tipos de músicas que não são abraçadas pelo privado e também não possuem espaço na esfera pública, podemos concluir que não há ouvintes o suficiente que as deem relevância (não entrarei nas razões pelas quais isto ocorre: estamos a tratar do gosto do público).
Lembro-me: a esfera privada faz muito mais esse papel de "público", no sentido que quer insistir em imbuí-lo, do que a esfera pública, que está muito mais ligada a questões de inclusão e valorização do periférico, esquecido e apagado, isto é, o que costumamos denominar por "cult". Claro, há exceções, como nas festas eleitoreiras e Forrós Caju, por exemplo, quando o Público se submete ao Geral com maior ímpeto, por questões de marketing político.
Enfim, é um tema bem complexo.
Lou,
ResponderExcluirApesar de haver a possibilidade de determinado gosto não ser executado por não haver público,não acredito que o papel de uma rádio pública seja a de selecionar qual artista gera mais audiência. Como eu ja disse, se é pública, é de todos.
Quanto à questão dos grandes eventos, eu concordo com voc~e, pois a partir desse instante, o povo gera dinheiro e por lotar esses ambientes, gera visibilidade a empresa pública hehe.
É aquela coisa: é popular quando atende a uma demanda de intelectuais. Nesse sentido o povo não é popular, pois o povo é cultura de massa, e cultura de massa pra intelectual é porcaria. Quando se é pra ganhar uma boa grana, voltamos ao pão e circo e ai a cultura de massa é admirada, porém, ficando imersa em um slogan externo que diz: valorizando a tradição.
Eu acho assim: ou se respeita o público como um bem público, ou seja, algo para todos, ou não me venha com discurso de público associado a respeito a diversidade quando na prática se seleciona o que deve ser admirado ou não.
Vina TorTO
Concordo com tudo, mas ainda acho confusa a definição de público. Para mim, público significa "do povo", e a variável de proporcionalidade seria a mais democrática, nesse sentido.
ResponderExcluirLou,
ResponderExcluirConcordo, porém, sabe qual é o grande problema? Associamos o termo povo aos setores pobres da sociedade, e nesse sentido, o público enquanto povo é tão excludente quanto a elite intelectual pensar que o popular é o que eles classificam enquanto tal de acordo com seus critérios estéticos.
Vamos rever isso: povo quer dizer indivíduos que frequentam determinado território delineado como espaço de validade da esfera jurídica e politica. Portanto, povo significa pessoas, o que é diferente de pobres. Aos pobres dizemos subalternos, setores periféricos, etc, isto é, uma especificidade que compõe a amplidão que se chama povo.
Portanto, público é o do povo porque pertence a todos e todos significa elite econômica e setores periféricos.
É uma discussão complicada mas que eu acho extremamente válida.
Se o público é para o povo e a maioria é pobre, pode-se concluir que o povo é, predominantemente, pobre. Se se quiser tornar algo público sem proporcionalizar, aí se verificará uma outra exclusão, pois ainda que se dê oportunidade à variedade de gênero, ao mesmo tempo divide-se o tempo desigualmente, já que a maior proporção de pessoas terá uma quantidade de tempo de execução/gênero musical relativamente reduzida.
ResponderExcluirHipótese: Exisitindo 24 gêneros musicais e 24 horas no dia, decidiu-se por dividir o tempo das grades em 1 hora por gênero. 80% da população escuta três desses gêneros, enquanto 20% os outros 21. Neste exemplo, há proporcionalidade de gêneros musicais, mas não há democratização de gêneros. Se o cenário nos mostra que a ocorrência real se dá de maneira inversa, utilizemos os meios que se dizem "públicos" (que pode-se entender por "pertencentes ao povo como um todo, e não a uma única pessoa") para reproduzir o anseio dos grupos que possuem afeição por gêneros excluídos, ainda que eu reconheça que mesmo a coisa pública não consegue democratizar totalmente a questão grupos/gêneros musicais.
O que reprovo na ideia do texto como um todo é a inserção de música de massa nas rádios públicas, já que sabemos que o número de rádios privadas é maior e elas dão conta destes gêneros quase que completamente em suas grades.
Lou,
ResponderExcluirEssa proporcionalidade é uma ideia de democracia mofada. Em um mundo no qual os interesses politicos se fragmentaram em infinitos outros interesses, em um contexto no qual os aspectos micros e particularizados é que são visíveis aos objetivos inseridos nos movimentos políticos, a democracia como algo da maioria, é alo obsoleto. A democracia é para todos, afinal, a minoria existe. As musicas devem ser executadas proporcionalmente independente de se ter mais pobre ou mais meninos inteligentes.
Outra coisa: se for pra excluir do público a música dos setores periféricos da sociedade, então deixemos de cobrar impostos a todos, retiremos alguns de leis que diga-se de passagem, não são feitas para eles, deixemos de pensar na ideia de que se é errado falar diferente do que o gramático (oriundo dos setores intelectualizados da sociedade) convencionaram e determinaram como certo. E mais: não contrataremos mais serviços ditos desqualificados para consertar a parede da nossa casa, para pintar nosso portão, para colher o nosso lixo. Sejamos públicos privativos descaradamente pois só assim teremos o direito de dizer: ouçam essa rádio pública feita para você mas não para você!!
Vinícius, o que há no seu pagamento de imposto que é superior aos restantes? Quer me dizer que o maior arrecadamento de impostos não parte de ouvintes de axé, pagode e forró (ao menos em Sergipe)?
ResponderExcluirNão há nada de fragmentado, amigo. Esses três gêneros dominam o mercado radiofônico e fim. As rádios públicas tocam outros gêneros, que são excluídos pela privada, e por sua vez exclui outros tantos, que acabam não tocando em lugar nenhum. Não há dúvidas de que a música de massa é a maior privilegiada por atender ao gosto da maioria e gerar, com isso, maiores retornos.
Vou colar algumas frases de difícil compreensão em seu comentário:
"Em um mundo no qual os interesses politicos se fragmentaram em infinitos outros interesses, em um contexto no qual os aspectos micros e particularizados é que são visíveis aos objetivos inseridos nos movimentos políticos, a democracia como algo da maioria, é alo obsoleto." (?)
"Outra coisa: se for pra excluir do público a música dos setores periféricos da sociedade (...)." (?)
Quanto à parte de contratação dos serviços, que relação isto possui com o tema? Estes sujeitos são em maioria ouvintes de música massiva, que toca exaustivamente em rádios privadas! Não há exclusão, já que as rádios privadas possuem acesso público (agora sim, com o sentido que você insiste em forçar)!
Lou
ResponderExcluirMeu filho, não misture as coisas! Quem falou de porra de pagamento de imposto superior? Falei que se for pra pensar o público desvinculado dos ouvintes de massa, assim como sua postura, pra variar muito excludente pensa, deixemos de cobrar os impostos do povo e deixemos de cobrar que eles sigam as leis que em geral não são criadas por eles.
Quem falou de fragmentação de gênero musical? Eu quis dizer que em um contexto onde os interesses politicos assumem objetivos mais de curto prazo e que ja esses interesses já não se apresentam em grandes grupos, visto que há uma infinidade de interesses em jogo e uma diversidade de grupos, a democracia no sentido da proporcionalidade não se encaixa. Esse negócio de proporcionalidade é um discurso ridiculo!!
Viu.
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