O Instituto Federal de Alagoas (IFAL) do Campus de Piranhas, conjuntamente com seus alunos e demais servidores, tem discutido a possibilidade de concretizar um programa de rádio chamado “A voz da juventude” que será transmitido pela Rádio Independente 98.1. Acredita-se que esse programa terá a sua primeira execução prevista para o dia 10 de dezembro deste ano. Apesar do nítido esforço para a concretização deste projeto, como professor de sociologia do IFAL e membro envolvido neste projeto, pretendo a partir deste texto, abordar acerca de alguns pontos que acredito serem de grande relevância.
De forma freqüente encontramos discursos referentes ao tripé ensino-pesquisa-extensão. Obviamente que eu sou extremamente a favor desse tripé, até por que eu não posso produzir um bom conhecimento se eu não estimulo os alunos a uma prática com a pesquisa para constantemente buscar renovar esse conhecimento, assim como eu não consigo visualizar uma importante função social produzida pelo conhecimento se eu não consigo realizar profundas alterações na realidade, e é por isso que acredito ser de grande importância dialogar com a comunidade.
Entretanto, eu acredito que devemos antes de tudo, refletir um pouco sobre o que estamos falando de extensão. O que muitas vezes eu percebo é que quando o assunto se trata de extensão, a idéia que temos é apenas de uma responsabilidade da instituição educacional elaborar e desenvolver projetos para a comunidade. Acredito que essa ótica guarda alguns perigos. O IFAL não vai estabelecer um contato com a comunidade se a comunidade não se vê pertencida no projeto elaborado por ele. Tanto a comunidade quanto o IFAL precisam dialogar.
Devemos entender que extensão significa diálogo, e não existe diálogo se não houver trocas de informações entre as várias partes que compõem esse diálogo. Por que atento para isso? Ora, não devemos cair no erro de achar que o fato de pensarmos estar criando um programa para a comunidade, signifique que de fato estamos falando para a comunidade. Antes de se realizar um programa com esse perfil, faz-se necessário buscarmos compreender e estarmos cientes acerca de quais são os interesses dessa comunidade para que com isso possamos também inserir suas expectativas culturais na grade do programa.
Muitas vezes as instituições educacionais constroem projetos sociais para dialogar com a comunidade, mas sem dialogar com essa comunidade. Antes de pôr em prática os projetos desenvolvidos, as instituições não podem determinar apenas por elas mesmas quais são os objetivos dos projetos, sem antes partir para uma exploração de campo para verificar quais são as reais necessidades das pessoas da comunidade. Ou seja, faz-se necessário procurar entender quais tipos de programas de rádios preferidos por elas, saber quais críticas que elas possuem acerca da programação das rádios, etc.
Gostaria de dizer que não é meu intuito tentar propor uma mera reprodução dos programas de rádio que a comunidade costuma ouvir, até por que a intenção deste projeto navega também na possibilidade de trazer à comunidade um acesso a outros tipos de informação e não apenas aos que estão sendo comumente transmitidos nas mídias massivas. Além disso, eu compactuo com a idéia de que o papel de uma instituição voltada à educação seja a de promover novos leques de informação, novas linguagens musicais, novos olhares acerca da realidade, ou seja, uma educação que busque estimular a diversidade social.
No entanto, para um programa de rádio estabelecer de fato um diálogo com a comunidade temos que nos preocupar em organizar uma programação que atenda aos interesses culturais da comunidade, assim como inserirmos nessa programação, formatos de atrações diferenciadas, para com isso, mostrarmos que a realidade cultural não se resume apenas as cartilhas impostas pelas mídias comerciais. Acredito que o projeto do programa trará bons frutos se soubermos aceitar os hábitos cotidianos da comunidade, acrescentando ao mesmo tempo, outras formas de conteúdo.
Se colocarmos na programação apenas debates referentes às problemáticas trazidas dentro do contexto educacional, temos que estar cientes de que esse tipo de discurso não é o discurso que o público geralmente tem o interesse de conhecer por não fazer parte do cotidiano deles. Por outro lado, se abrirmos um espaço para que as pessoas da comunidade também sejam entrevistadas e tenham direito a voz, trazendo paralelamente entrevistas vinculadas às problemáticas mais acadêmicas, teremos a chance de atrair o público ao programa, e “por tabela” traremos novas propostas.
Agregando uma programação que produza identificação com a comunidade, motivaremos esse público a consumir o programa. Por outro lado, inserindo novas propostas no programa, estamos fazendo com que essa comunidade passe a ter um contato com produções que comumente ela não tem acesso. Com isso, seremos capazes de unir o interesse da comunidade com o interesse do IFAL, pois possibilitaremos uma identificação dessa comunidade com o programa, além de apresentarmos outras propostas. Enfim, haverá um diálogo entre as duas partes, e, portanto, uma extensão.
(ARTIGO PRODUZIDO PARA A REUNIÃO QUE FOI REALIZADA NO DIA 12 DE NOVEMBRO NA RÁDIO INDEPENDENTE 98.1 EM PIRANHAS-ALAGOAS)
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