É difícil. O que há por trás das ruas cujos prédios tendem a envelhecer no modo rápido e eterno é aquele velho refrão de se priorizar, enquanto critério de legitimação, a senilidade em detrimento do mérito.
Não que eu esteja aqui propondo a destruição massiva do que se afirmou por sua velhice. Mas já cabe, instantaneamente, uma proposta: a de não se contentar com o mero fato da sobrevivência de algo há séculos, e sim perquirir a maneira por que tal coisa continua a se afirmar. Sua existência barra a chegada de novas concepções mais efetivas? O fato de ainda existir não acaba sendo contraproducente, quando vamos além do politicamente correto? O feijão com arroz de sempre não enjoa, sei, mas não me impede de ver a esquina, a gasolina, a Carolina etc.?
Sim, em todo o mundo a senilidade traz consigo o fator legitimador da tradição. Porém, há lugares em que isto não se dá em prejuízo da eficiência de outras e novas coisas. É tanto que, em tais lugares, vemos um peso um pouco menor da tradição. E aí não interessa, de forma decisiva ao menos, se professor X lecionou trinta anos em Harvard, se uma banda de apenas três meses ganhou um festival de música frente a uma de quarenta anos, se o ator que foi indicado quinhentas vezes ao Oscar tenha que por isto necessariamente ganhá-lo etc.
E esta é uma proposta que eu faço a minha cidade, para que não vivamos de alguns ídolos que ninguém conhece, de alguns magos que não tiram sequer um camundongo da cartola, da felicidade do casamento de cinquenta anos etc. Priorize-se o fogo, não importa o quanto a chama deva durar; apenas que ela queime.
Josué
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de elogiá-lo pelo seu texto. Nunca mais eu tinha lido algo seu que me provocasse tantas questões pertinentes quanto este.
Entretanto, enquanto um cara que se envolveu na cena musical por míseros dois anos, que ainda seria muito bom se a bosta desta cidade se prendesse ao seu passado. Não. O cocô desse quadrado sequer tem acessos a registros de sua história, e, portanto, sequer tem memória dos seus feitos. Esta cidade não reconhece nem o artista ou a banda que possui meros tres meses de estrada, assim como não reconhece quem tem trinta. Esta cidade significa: o vazio norteador da falta de perspectiva. É um inferno feito de forma mal feita. É um feito idiotizado, amortecido pelo pulsar dos sorrisos provincianos e familiares de pais e padinhos que aplaudem suas crias quando estas se apresentam nos festivais da vida e depois os esquece. Esta cidade é o cumulo do tumulo do desconhecimento, da horrenda carencia da presença ativa de qualquer proposta que venha ao menos a exercitar o dom de ser irreverente e de se sentir bem em sua irreverência. Esta cidade não tem açucar, nem sal, nem tempero, nem ganacia, nem nada. É a esquina que se desdobra na avenida interiorana que faz volta em torno de uma arvore na praça e desmboca no rio sergipe. É uma cidade que não tem passado pois não tem quem a pense enquanto produto de toda uma alteração em seus valores e em sua moral, até por que o que nos pertence, nos é desconhecido e por isso mesmo conhecemos o que não nos pertence e sentimos o que nos é alheio.
Viva Aracaju e se foda por acreditar que ela o ama. Lute por alguma coisa nesse locus desmerecido de qualquer palavra de carinho que você terá de volta o mero encontro previsivel das corjas de artistas que se agregam em cargos de confiança esquentando seus rabos nas rádios públicas e excluindo qualquer outro que não faça parte de seu grupinho ganancioso e contrário a industria de massa (óò quanto querer pela diversidade!!!).
Essa cidade não leva nada a nada. Simplesmente isso: nada se leva a nada.