Bons romances: As primeiras frases ilustram o argumento. Quando elas são ruins, não se pode cobrar atenção às verdades nele depositadas. Um livro de Ken Kesey, cujo título é Um Estranho No Ninho, há um tempo atrás, quando o li, me convenceu disso: fundado com imagens chamativas, o impacto causado pela forma como são descritas impulsiona o leitor, arrematado por elas, às páginas seguintes, em que se percebem, não obstante haja a ressalva da tradução, uma queda visível no estilo como é levada adiante a narrativa. A esperança de que o final faça justiça ao começo idiossincrático, sujeita o interlocutor a não abandonar o livro, a perseverar no apanhado de páginas mal contadas que sucedem àquelas frases iniciais que prometiam muito. E o final, a contragosto, por vezes não guarda nada que não pudesse ter sido premeditado. Isso posto, agora entendo o personagem do romance A Peste, um dos melhores de Camus, que não consegue transpor as primeiras linhas do conto que está querendo narrar, reelaborando as primeiras frases infinitas vezes.
A arte de narrar: O tema abordado pelo narrador não pode vir a ser interceptado por interpretações que fujam àquelas pensadas por si enquanto elaborava a obra. O processo, opus magnum de Kafka, caracteriza a rigor a presente tese: determinada pela experiência do escritor como advogado em um escritório, as desagradáveis burocracias encontradas no decorrer da narrativa podem se estender, apenas, a uma dimensão metafísica em que o leitor, interrogativo, dilui-se nas páginas do romance, fazendo do mundo jurídico a própria vida, e vê-se como um condenado que cometera um delito cuja natureza desconhece, sentenciado a remediar seu crime com a própria vida, e isso depois de já ter assumido a pele de Josef K – isto é, de ter-se tornado consciencioso para com o seu destino. Se o sucedâneo do enredo pensado pelo autor é a livre interpretação de seus leitores, o testemunho filosófico da obra, ainda que se trate de um trabalho literário magnífico, tende a se estagnar em virtude da mediocridade interpretativa dos incautos: embora mereça ser entronizado por ter deixado a questão da traição em aberto, Machado, com o seu belíssimo Dom Casmurro, foi vítima disso, sobretudo quando se constata a confusão que fazem entre ceticismo e achismo tendencioso. A menos que a confusão dos incautos tenha sido uma possibilidade calculada friamente por si – o que, devido a sua genialidade como contador de histórias, é o mais provável -, cabe a ele, se não, esta única ressalva: o brasileiro só entende as coisas quando lhas desenhamos.
Verborreia e tautologia.
ResponderExcluirRapaz, o que é que João anda fazendo nesse site? Pelamordedeus esse cara acaba com essa belíssima proposta que o torto vem tentando trazer ao leitor!!
ResponderExcluirO primeiro fui eu (o que se pode identificar pelo chavão), mas o segundo não. De antemão, é uma brincadeira, como de costume.
ResponderExcluirHum...
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