Confesso que não sou uma pessoa que tem leituras aprofundadas acerca das religiões, mas por eu me deparar com determinadas condutas dos ditos religiosos, passo a me questionar bastante sobre isso a quem chamam de deus. Conversando com meu amigo torto Roosevelt, um grande conhecedor do assunto, passei a construir cada vez mais uma idéia acerca dessa entidade tão polêmica e tão adorada, e por isso mesmo, sinto-me extremamente à vontade em trazer esta semana o que eu entendo como deus.
Já me perguntaram muitas vezes se eu acredito em deus e eu costumo responder que sim. Entretanto, a minha crença não compactua com a idéia que as religiões ocidentais tradicionais como o judaísmo, catolicismo e protestantismo fazem acerca dele. Acredito que deus se encontra sempre a nossa volta, mas esse deus, antes de se revelar como um velhinho de barbas brancas se manifesta a todo instante através de uma espécie de insight que eu revelo em mim mesmo e que não sei delimitar de forma clara de que fonte vem.
Para mim, deus se encontra anterior a minha capacidade de verificar e de comprovar qualquer realidade aos meus olhos. Por exemplo: quando um cientista consegue descobrir um determinado fenômeno na realidade, o que esse cientista fez foi apenas revelar para ele uma lógica que já antecedia a sua própria razão. É por isso que eu acredito que deus existe. Deus é nada mais nada menos do que uma harmonia e uma lógica que independe de qualquer razão científica ou poética. Deus é aquele que se externa de forma obscura e que não se apresenta a nós deixando a gente sentir a todo instante a sua existência.
Outra crítica que faço a essas religiões é a de simplificar deus ao amor. Para mim deus é uma mistura de amor e de ódio, pois se ele fez o mundo e se seus filhos vivem ao longo de suas existências convivendo com esses dois sentimentos, como posso afirmar que deus é apenas o amor? Eu penso que deus se prova a todo instante fiel a todos nós, mas que nos dá a possibilidade de experimentarmos outras formas de sentimentos. Ele quer é que a gente aprenda a se aventurar em nossas próprias descobertas, ele quer que a gente se estrepe para que com isso a gente aprenda a reconhecer melhor os nossos atos.
Deus quer amor, mas o amor visto por deus é um amor que nos faz sempre retomar a nossa consciência para que nós passemos a nos compreender melhor, assim como compreender o nosso outro de nós mesmos e ao outro que convive ao nosso lado em nosso dia a dia. Não acredito que deus seja esse tipo de patrão que se apresenta a nós sempre para nos punir ou para determinar o que é certo ou errado. Deus goza a cada vez que colidimos com o que achamos ser certo e com o que achamos ser errado. Amor e dor andam juntos para deus, assim como a alegria e a tristeza.
Sinceramente não me convenço de que deus nos puna para nos fazer sentir dor pelos nossos atos. O que deus busca é que a gente saiba se utilizar do nosso sofrimento como forma de buscarmos criar novas estratégias para as nossas ações para que com isso a gente venha a conseguir cada vez mais aprimorar nossa relação com os outros. E mais: nesse aprimoramento deus está plenamente ciente de que nunca atingiremos a plenitude dos nossos ideais, pois estamos aqui é justamente para brincarmos de esconde-esconde e de pega-pega. Achamos, perdemos, perdemos, achamos, sorrimos, choramos, brigamos, amamos.
Antes de querer centralizar os humanos ao seu domínio ou querer puni-los, deus se alimenta do sonho de enxergar a possibilidade de cada homem de visualizar as suas potencialidades, de rever os seus erros, de reconsiderar as suas verdades, pois deus está dentro de nós e ele é a nossa própria motivação, é a nossa força, é o nosso sonho, nosso medo, nossa angustia, nosso crescimento, nosso eterno reformular de nós mesmos. Deus a todo instante nos dá presentes e nos toma, não por que nós não merecemos, mas por que nós precisamos aprender a merecer e a desmerecer as coisas.
Deus é um traidor que nos permite encontrar nele constantes atos de lealdade e de cumplicidade. Deus meus queridos leitores, não passa de um amigo cretino que nos alimenta seja na hora da fome, na hora das nossas frustrações, nas folhas que caem, assim como em nossas orações.
Eu não interpreto Deus como se ele tratasse o indivíduo como uma criança que percisa aprender como o behaviorismo propõe, não vejo na punição uma aprendizegem e sim um controle dos corpos, por isso acho relevante a sua interpretação de um deus. Porém, acho que as vezes a incapacidade de olhar para si leva algumas pessoas a colocarem a sua existência em outro ser, não asumindo a realidade do seu próprio cotidiano, utilizando uma representação simbólica para fugir da responsabilidade. Que porra é existência? será que somos um jogo que um cara fica jogando e decidindo a cada instante o que somos. Contudo,tenho a crença na minha interpretação de um deus...
ResponderExcluirDANY
Dany,
ResponderExcluirPutz, que comentário de fuder cara! O legal é que você sinalizou acerca de dois pontos extremamente interessantes que foi o interesse das religiões em controlar os corpos de seus fiéis e a dificuldade dos humanos em se enxergarem jogando tudo isso para um personagem que chamam de deus, deixando muitas vezes de lado as suas próprias responsabilidades.
Acho que é isso mesmo: encontramos certas religiões que não se encontrm nem um pouco interessadas em fazer o sujeito ser dono de seus atos, colocando-os apenas em meio a uma massa de seguidores com suas cegueiras e ao mesmo tempo percebendo que essa cegueira é facilitada por eles por não buscarem questionar-se acerca de seus próprios atos.
O controle e a falta de senso critico são dois elementos que se combinam, e por isso mesmo encontramos isso: um deus que ao invés de possibilitar o encontro e o estranhamento do sujeito consigo mesmo, apenas assume um comando que tem como natureza a ordem e a alinação desse sujeto consigo mesmo, e, portanto, com o mundo que o cerca.
bjs
Que texto espetacular Vini, ele me faz relembrar aquele Deus=eus, que tanto já comentamos.
ResponderExcluirO Deus(eus)que se traz em força tirada d mais íntimo, de onde vc nem sabia que existia, que nos faz capaz de ir além qd todas as opções se esgotam, que faz vc reconhecer o que o outro tem de melhor, que não te julga mas te corrige, que se revela na simplicidade do que realmente vale a pena.
*O Deus(eus)que se traduz em força tirada do mais íntimo
ResponderExcluirBabi,
ResponderExcluirÉ isso mesmo! Deus são vários momentos que se refletem em nossas vidas. Deus é a nossa força e a nossa faqueza, nosso sucesso e nosso fracasso, pois deus não tem um inicio ou fim, e pouco se preocupa em querer ser esses extremos. Deus é o meio pois deus significa uma constante e inconstante construção de nós mesmos. Deus é processo, deus é a sintese eterna do nosso incansável aprender e desconhecer de nós mesmos. Deus ama os vacilos, pois deus ama os nosso encontros e desencontros com nós mesmos e com os outros que nos cercam. Acredito que para deus, o que está em jogo não é o ser melhor ou pior, o certo ou o errado, e sim, o fato de podermos visualizar as duas coisas e sabermos tirar delas experiências suficientes para nos alimentarmos da paz e da guerra, de sabermos transitar no inferno e no paraíso. Somos todas as coisas reunidas ao mesmo tempo e os nossos atos se divinizam no instante em que admitimos que somos condizentes com todos esses atos, pois só assim somos capazes de olharmos o outro como seres que eternizam seus sentimentos e seus feitos em seu dia a dia.
bjs
Adorei!:D
ResponderExcluirCertamente Vina, a concepção de Deus é abstrata e cheia de sinuosidades.Ele se apresenta de várias formas, e uma delas pode ser a que você acredita. o mais importante é lembrar que a própria concepção divina está atrelada ao querer e necessitar humano, e isso é questionável.
ResponderExcluirMárcio,
Excluir" a própria concepção divina está atrelada ao querer e necessitar humano, e isso é questionável." É isso mesmo.
O humano está sempre aprendendo e reelaborando seus comportamentos e visões acerca da realidade que o rodeia. A linguagem, os nomes que nós compreendemos na cultura foram construidos pelos homens. Como tudo que existe ao nosso redor possui um nome, tudo foi construido por humanos. Como humanos não são onipotentes e são cheios de falha, tudo que possui um sentido é questionável por ter sido construido pelo animal falho chamado homem.
O que as pessoas deixam de enxergar é que as certezas e as verdades são criações humanas resultantes de negociações de multiplos interesses em uma relação de força que implica conflitos de classes. Isso foi o que marx ja havia chamado atenção quando se utilizou do conceito reificação do homem, ou seja, o homem coisificado que não se enxerga enquanto agente responsável pela construção da história.
Só sei que o homem não anda se reconhecendo como homem, como agente ativo e construtor da história. Por isso é muito fácil convencê-lo de que as verdades são de fato verdades em si mesmas, pois a partir do momento em que ele não se reconhece como construtor de seus póprios valores, ele nao reconhece que os valores externos a ele são construções de homens como ele.