terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ô neguinho toque aí pá nois vê

Eu ontem conversava com meu querido Vina, conversávamos sobre a questão da relação indentitária da sociedade brasileira com uma das varias etnias que a compõem. Esta que foi tão importante, que ergueu esse país e teve que cheirar o peido das européias fedorentas por muito tempo em nossa historia (coitadas acostumadas com o frio achavam que não precisava tomar banho no Brasil). Bem, esta conversa me lembrou a leitura de um intelectual que tem como uma das suas formações a antropologia, chamado Tzvetan Todorov.

Este velhinho fala em seu texto Conquista da America, da relação de alteridade do colonizador para com as nações que existiam na America, a partir de então saqueada. Essa exposição das relações desses dois sujeitos, muito me inspira para falar desse tema, uma vez que acredito que herdamos ainda o arquétipo do colonizador. Este mesmo colonizador, admira as obras do negro por exemplo, mas não o confere subjetividade, ou seja, não se estabelece uma relação inter-subjetiva. É o que vejo e o que acontece nas escolas Brasil a fora, colocam os afro-descendentes para dançar, tocar alguma coisa, e consideram isso política afirmativa... meus queridos isso nos castelos (como o próprio Todorov cita em seu livro) europeus a séculos já se fazia, colocavam os antigos moradores da America Central para dançar e fazer malabarismos, mas no caso a admiração era mais sinal de cobiça ou desejo de dominação do que de empatia. E quando se fala em pensamento afro, quando se fala na explicação cosmogênica do afro-descente, este individuo se cala porque tais afirmativas ou são consideradas imbecis ou são coisa de satanás (parece que estamos em 1600, não é verdade?).

Humildemente enxergo na historia dois movimentos: o primeiro foi à destruição célere através da coerção da cultura africana no Brasil, que até mesmo o que se metamorfoseou na historia teve muitas das vezes um falso desligamento com a base cultural, e se diluiu. E o que resiste ainda, é colocado de forma estandartizada, como se a cultura africana se resumisse a musica, dança e culinária (quando se tem muita coragem se fala da religião, quando não se restringe também a museus). A segunda coisa que quero expor é o seguinte, que no Brasil falam que o preconceito com relação ao negro diminuiu, mas queridos, é muito mais fácil tolerar um negro europeizado. Porque se esse mesmo individuo por exemplo, um filho de santo, saí do terreiro com seu contregum no braço, quem não vai olhar? Aceitar o outro retirando sua subjetividade é muito fácil; viva o american tupiniquin life que eu te aceito negrinho. E ainda sim, qualquer cidadão brasileiro sabe desse ditado: negro rico é respeitado, agora negro pobre é marginalizado. Por que isso?

Por ultimo, queria deixar uma proposta a todos os professores leitores desse blog, por que não estudar a historia africana pré colônia? E também, por que não demonstrar a trajetória do negro contemporâneo que consegue resistir mesmo sendo perseguido. O africano é sobretudo um forte, e hoje o mesmo é um brasileiro! E assim que o devemos olhar, mudemos os estigmas de verdade.

12 comentários:

  1. Texto muito foda. Parabéns. O Brasil aina precisa perder esse estigma da colônia.

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  2. Meu caro Reuel torto,
    A nossa fala nos entrega a todo instante que também bebemos da fonte do racismo. O próprio negro é racista. A coerção social é grande demais. Sabemos o certo fazendo o errado. Os atos falhos nos entregam. "Vamos comer uma nega, cara!" "Olha que negra gostosa!" Esses enunciados podem estar se referindo a uma branca. "Cabra safado!" A cabra que é preta nos remete ao negro. É safado, sobretudo, porque é negro. Sem contar as piadas. "Negro voando é urubu, negro correndo é ladrão". Se a língua é internalizada de forma inconsciente os preconceitos são também, e deve ser essa a causa de ninguém escapar. Até nós que criticamos o racismo, somos racistas. E salve o torto!!!!

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  3. Roosevelt,

    É por isso meu querido que eu acredito que antes de externarmos nossa preocupação acerca do fim do racismo, nós deveriamos ser honestos com nós mesmos, questionando-nos se de fato é do nosso interesse o fim do racismo e de qualquer outra forma de segregação.

    Depois desse reconhecimento, é que acabaremos com o falso moralismo discursivo e passaremos a buscar outras alternativas que não venham a simplificar o negro como algo romantizado, vitima, e portanto, cheios de adornos de caracteres sublimes, porém, desconexos com nossa prática cotidiana.

    É importante entortar nossa concepção ao invés de nos submetermos a um discurso reto, como se o fim do racismo passasse simplesmente por um caminho simplório do racismo até o não-racismo. Devemos reconhecer as próprias pedras que nos machucam, mas tambem as pedras que nos servem e que nos criam formas de defesas e abrigos.

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  4. Reuel,

    Acredito que voce trouxe vários pontos que vêm a complementar esse debate. O primeiro se referiu à questão da admiração dos negros.

    Enquanto antes diziamos falávamos da cultura negra para reforçarmos nossa dominação, hoje dizemos ter uma empatia para com o negro, mas com o mesmo objetivo de dominação só que de forma mais velada. Digo isso pois a partir do momento em que simplificamos o estilo de vida de ser do negro a uma amostra cheia de adornos e poucas problematizações, estamos apenas querendo afirmar um respeito que não temos. Enfim, deixemos acabar a problemática nas amostras, passemos a entender a condição do negro muito mais como vitrine do que como algo mais conflitivo e contraditório que implica jogos de forças e de poder. Vamos externar um respeito mas não deixemos o negro assumir uma posição dentro da hierarquia dos prestigios etnico-culturais!!!

    Outro ponto se referiu ao negro europeizado. Perfeito!!! Quando o negro traz junto de si elementos que associamos a uma cultura negra, nós no minimo passamos a olhá-lo como exótico. Quando nosso preconceito se torna mais doentio, encaramos determinadas práticas como coisa de marginal como o exemplo de um ritual religioso em um terreiro por exemplo. Como você bem disse, " aceitar o outro retirando sua subjetividade é muito fácil".

    Parabéns

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  5. Parabéns pelo texto, meu caro Reuel. A sua analise foi esclarecedora e instigante, tendo em vista, todos esses discursos politicamente corretos que são tão vazios. Li um livro do Mafesoli chamado "República dos Bons Sentimentos", em que era relatada essa preocupação com a reprodução do discurso politicamente correto e que essa perspectiva tira a autenticidade ou até mesmo cria um receio nos comentários contrários ao tema.

    Aproveitando o comentário que fiz no texto de Vina sobre a comemoração do dia da consciência negra, as datas comemorativas são expressadas de forma caricatural ou simplesmente festiva no caso das escolas, onde a socialização se intensifica. Dessa maneira, acredito que a nossa relação com o negro é de amor e ódio, ou seja, ainda reproduzimos os nossos preconceitos seja em forma de piada ou no padrão de beleza do que tem "cabelo ruim ou bom".

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  6. Acho a posição de Vina sensata. Abre um leque para a discussão, o diálogo com o fenômeno. Acho que não é boa ideia tratarmos o racismo com esse tom de "coitado do negro", pois o enunciado "coitado do negro" pode ser racista.

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  7. Bahktin analisou os enunciados populares. Neles, creio eu, deve haver um conjunto de enunciados que denunciam o racismo como um fenômeno bem mais complexo do que a ideia de uma relação de dominado e dominador. Afinal quem é quem? O racismo tem como objeto elementos da mesma cor e raça. Como explicarmos o racismo do negro contra elementos de sua raça? Acredito que o termo racista bode ganhar um valor polissêmico. Racismo pode ser uma aversão ao que me remete ao lugar de dominado. O pobre propriamente ou pode ser uma outra coisa, além do valor puramente semântico.

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  8. Obrigado a todos, neste momento acabo de chegar de um lugar extramamente tenso, com relação a diferenças. No momento só vou agradecer a todo porque estou muito cansado, amanhã vos prometo que irei colaborar mais com o torto, pq as colaborações dos colegas estão do caralho. Abraços

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  9. "Racismo pode ser uma aversão ao que me remete ao lugar de dominado."

    Essa é a ideia que tento trazer no texto, de mudar o estigma de verdade. Afinal, se não construirmos nos nossos alunos (ou pelo menos tentar construir), valores que criem neles um imaginario do negro mais condizente com suas virtudes, não apenas alegorica, não tem como retirar as assimetrias gritantes. Afinal, esse processo acontece instantaneamente, é inconsciente como disse meu pai. É um olhar para pessoa que senta atrás de vc no ônibus...

    É aquela coisa, eu conheço uma pessoa, que todas as empregadas dela foram negras, e a maioria dos seus amigos são brancos, e os mestiços que frenquentam a casa dela possuem muito dinheiro. Mas, se vc pergunta a ela, vc é recista? Ela vai dizer NÃO!!!! Afinal, ela trata tão bem seus empregados kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Para, mudar os estigmas é necessario estrumentalização, pesquisa, leitura... pra dai então se debater um conteudo de fato para se passar a sociedade. PICA DE LDB, PICA DE PCN... isso é tudo mais uma forma de politica compensatoria, tá no pacote da institucionalização da dominação.

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  10. Obs.: Falo neste caso, as partes que se referem a "politicas afirmativas".

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  11. Faço das minhas palavras as do terceiro comentário do Roosevelt.

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