Como professor da rede estadual, presenciei um evento acerca do Dia da Consciência Negra. Fiquei a refletir sobre algumas questões como: quais os objetivos do Dia da Consciência Negra? Quais os comportamentos dos docentes nesse tipo de evento? Será que eles provocam maiores estímulos aos alunos? Se não, o Estado tem alguma parcela de culpa diante disso tudo?
Para mim, o objetivo do Dia da Consciência Negra é estimular ao aluno a exercitar um olhar que venha a romper o preconceito criado com relação aos negros. Ou seja, gerar uma conscientização e uma inclusão às categorias historicamente marginalizadas. Com isso, acredito que o evento tem duas finalidades preponderantes: extinguir o preconceito racial e valorizar as produções culturais dos negros.
Qual a estratégia adotada pelas escolas nesse tipo de evento para acabar com o preconceito racial? O que eu percebi foi que infelizmente o objetivo não se encontrava de forma clara para os alunos. O evento não passou de uma amostra em forma de espetáculo acerca de alguns elementos que os alunos selecionaram acreditando trazer uma reflexão acerca do negro.
O que devemos é alertar aos alunos sobre seus próprios preconceitos e mostrar que muitas vezes eles próprios também reforçam o preconceito. Não adianta ensinar ao aluno apenas a dizer que o racismo é prejudicial, se ele, por não refletir sobre seu próprio racismo, perpetua o preconceito racial. É importante mostrar ao aluno que ele também é responsável pela desigualdade étnica.
No diz respeito às produções culturais dos negros, admito que os alunos trouxeram muitas coisas interessantes como músicas, culinárias, literatura, danças, etc, porém, o que eu percebi é que os alunos ao se apresentarem, limitaram-se a enxergar o negro apenas como vitima de um sistema. Esse tipo de observação não deixa de ser importante, no entanto, passa por alguns problemas.
Não é por que supervalorizamos as produções culturais dos negros, que conseguimos resolver a questão do conflito étnico. A postura de supervalorização tende a buscar romper um preconceito criando outro justamente por não conseguir enxergar preconceitos também por parte dos negros. É importante proporcionar aos alunos uma análise menos dicotômica da realidade.
Além disso, o aluno ainda se encontra mais desestimulado ao verificar a ausência dos professores no evento. Para mim, o docente tem que estar presente porque ele tem que reconhecer que querendo ou não, ele é uma grande referência para o aluno, e se ele não comparece, os alunos terminam desacreditando e se desestimulando com o evento.
Mas esse problema se deve apenas ao corpo docente? Acredito que não, afinal, o Estado tem uma parcela de culpa nisso tudo, uma vez que os educadores que atuam na rede estadual vivem sobrecarregados de aulas, e para dar conta de todos esses afazeres, tendem a dar a velha “fugidinha” nesses momentos. O Estado tem que possibilitar aos docentes melhores condições para que eles possam se dedicar com maior exclusividade a sua profissão.
Apesar de reconhecer uma parcela de culpa no Estado, eu também acho que os docentes têm que reconhecer a importância de eventos como esse. Se não há reconhecimento, há apenas obrigações vazias de sentidos por parte deles e por parte dos alunos, e, portanto, deixa de haver possibilidades de fazer do Dia da Consciência Negra, um caminho mais critico dos alunos acerca das segregações raciais.
Portanto, para mim, o Dia da Consciência Negra surtirá efeitos quando o aluno enxergar seu próprio preconceito; entender o negro não apenas como vitima; quando o docente reconhecer que sua participação nos eventos gera estímulos aos alunos; quando o Estado possibilitar aos educadores uma melhor condição de trabalho, mas também quando o docente se comprometer com seu papel e de fato reconhecer a importância do Dia da Consciência Negra.
Às vezes comparo a condição do negro à do personagem kafkaniano Gregor Samsa. Tenta reaver a sua sociabilidade, mesmo ainda vítima de uma traumatizante mutação, mas os seus esforços são, no geral, em vão, pois constantemente ver-se coagido ou pela família, que não o aceita um inseto, ou por si mesmo, por saber-se diferente dos seus e repulsivo aos mesmos.
ResponderExcluirNo mais, concordo com você quando diz que o negro também deve procurar cessar com o seu próprio preconceito. Por exemplo, estabelecer como parâmetro de beleza os moldes europeus é uma atitude preconceituosa, uma vez que o negro desvaloriza os traços concernentes à sua raça e enaltece, como ideal, os traços de uma que, em termos claros, é muito diferente. Já presenciei uma cena interessante: uma mãe, negra, dizia que a sua filha, também negra, só casaria com um homem branco; com negro jamais. Clássico exemplo do que acho que você quis dizer no texto.
João Paulo dos Santos
Para mim existem dois pontos fortes nisso tudo que é o seguinte: o negro não pode ser representado da mesma forma que o tratam cotidianamente, algo que se está aí, mas sua historia e seu valor é sempre visto de longe, é aquela coisa, é bunitinho mas eu não me aproximo. Se a representação desse negro tomace o ponto de partida de que, a cultura negra é algo endogeno e não exogeno, algo não está cristalizado no passado, teriamos outra relação indentitaria, ou seja, os nossos alunos iam ver que as coisas que eles consomem cotidianemente tem uma origem africana (e porque não tb se retratar na escola a propria historia da africa pré-colonia). E o segundo ponto que é o pior de todos, é q quando se trata do negro estritamente como o subalterno e não mostra a sua força, e a sua capacidade e inteligencia, de nada vale querer pregar uma mudança nos estigmas, se não se muda o proprio estigma que se condena hehehehe. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirJoão
ResponderExcluirPerfeito! É isso mesmo cara.
Eu acho que o que nós devemos pensar é antes de tudo na nossa formação histórica por dois lados:
o primeiro é reconhecer que apesar de sabermos que as diferenças entre superiores e inferiores são inexistentes, não podemos negar toda uma formação moral, estética, etc que nós recebemos ao longo da história.
Reconhecendo isso, saberemos enxergar que apesar de lutarmos contra a segregação racial, nós carregamos de certa forma o racismo que vem se prolongando de geração a geração. Enfim, é importante reconhecermos isso para que passemos a evitar a valorização do negro de forma romantizada e plena ao invés de algo critico e predisposto sempre a novas problematizações.
O segundo lado é sabermos que o racismo não parte só do branco para o negro. O racismo significa negação de uma raça, e o branco também é uma raça. Obvio que a estética do branco por historicamente ter sido introjetada em nossas mentes como a representação do que se considera sublime e belo, faz com que os brancos sofram bem menos preconceitos do que os negros; no entanto, devido até mesmo a própria opressão, exclusão sentida pelo negro, ele também repudia muitas vezes o branco. 100% Negro, antes de ser apenas uma afirmação pelo respeito a uma identidade étnica, pode ser também um racismo e uma busca por uma pureza étnica européia semelhantemente ao contrário, uma vez que agora é um discurso legitimado pelos setores antes marginalizados da sociedade.
Portanto, não adianta lutarmos contra o racismo apenas. Nós devemos admitir que pela nossa formação histórica e cultural, inevitavelmente ainda carregamos residuos racistas e isso tem que ser posto para nós mesmos para que evitemos apenas olhar o negro como um espetáculo esteriotipado e romantizado. Também devemos reconhecer que o negro não se encontra apenas na condição de vitima. É importante olharmos os negros também como responsáveis por novas formas de segregação, sem deixar obviamente de reconhecermos a opressão que de fato os negros receberam e têm recebido ao longo da história.
Reuel,
ResponderExcluirMuito do caralho o seu comentário! Porra, proporcionou uma série de indagações a mais acerca desse tema.
Pois é, gostei muito quando você fez a observação de pensarmos a nossa relação com o negro dentro de toda uma teia de relações cotidiana, enfim, uma relação inter-subjetiva estabelecida por nós.
Esse olhar implica um reconhecimento menos romantizado e menos mediocre acerca do olhar que fazemos dos negros. Como você bem expos, olhamos sempre o negro de fora como se colocássemos os negros em um passado cristalizado sem nenhuma articulação com as problemáticas do presente contexto. Por não percebermos essa ponte, tendemos a resumir o negro como você disse a mim no msn, ao cantar, dançar e ao criador da capoeira e do acarajé, quando na verdade o negro é detentor de uma cultura muito mais complexa, diversa e abrangente.
Concordo, o negro não deve ser visto apenas como alguem incapaz, e sim, como um sujeito ativo, criativo, capaz de negociar e de conflitar com o sistema. Romantizar é apenas colocar mais um estigma e abafar a real condição do negro. Enfim, a mesma coisa que os inimigos dos negros fizeram, com a diferença de que eles criaram estigmas para muitas vezes inferiorizá-los e não para romantiza-los. Tanto um lado como o outro da na mesma: a exclusão.
quero colocar a prte que vc falou sore a carga hororiados professreseque limita muito o processo de apredizagem entre aluno e professor ,pelo fato de do professornao aguentar ensinartant empenho e constrir um apredizado subjetivo , e muito vezes recorrer a metodos decorebas tradicionais , oprofessor tbm tem sua vida profissional ,casos comoum professor ganhar r$ 1000 e ensinar 10 turmas um professor nao vai ter estimulo para ensinar..quem que ter familia nao seja professor pq sera um pessimo profissional pq alem do salario nao dar pra sustentar familia issotbmacarretara numprofessor que ensinara de forma ruim .
ResponderExcluirobs : quando disse professor e de ,de escola publica e privadado medio fundamental , e bastante nocivo a profissao um professor pegar 12turmas e ganhar abaixo de 2.000 r$,mas nem todos os casos sao assim.
Alan
Uma ressalva despretensiosa: não confundir cor com história/cultura. Nos colégios os quais estudei, os negros classe média alta eram mais brancos do que eu e sofriam menos preconceito do que os nerds.
ResponderExcluirGostei muito do seu texto, Vina. Ele me fez suscitar reflexões sobre as suas reflexões. Isso mesmo, risos. A escola tem o papel de socializar o individuo com nos valores morais e culturais da sociedade da qual está inserido, além do que transmitir informações necessárias para a formação técnica. No entanto, vejo um discrepante planejamento no sistema de ensino no que concerne a trasnmissão dessas informações. As escolas, principlamente as particulares focam nessa formação técnica, voltada para a entrada no ensino superior, caminho para o mercado de trabalho. A escola pública, essa carrega todos os fardos que não deseja e os que não desejaria. Explico melhor. Ela não está voltada para o público que ela atende e ainda por cima não possui um planejamento para a inserção das atividades de formação técnica e muito menos para a socialização do aluno. Ou seja, temos dois problemas. Ou a escola foca demais a formação técnica e a absorção "adestrada" dos conhecimentos ou faz de conta que internaliza os valores.
ResponderExcluirVejo que o problema de gestão e objetivos são bastante difusos e de serventia para a formação de um cidadão tapado, que enxerga a necessidade de ter um emprego e pronto. A preocupação com o ensino e o aprender passou a ser secundário, o consenso é ter no máximo o básico e, olha lá, isso pode ser muito.
Concordo plenamente com o colegas. Algumas coisas devem ser consideradas quanto ao que chamam d dia da consciência negra. Acho esse dia, dia de branco.
ResponderExcluirRoosevelt,
ResponderExcluirConcordo com a sua pessoa. Mas apesar de sabermos que a representação dada aos negros, antes de requestionar criticamente a condição dos negros, remete a uma representação constuida de acordo com as conveniências dos brancos, eu acho que falar Consciência Negra é tão segregadora quanto Consciência Branca, uma vez que devemos entender as práticas culturais dos povos como práticas que apesar de haver sempre uma relação de poder de uma parte com mais preponderância diante da outra, existe também as fusões, as trocas, e a consciência do negro é uma consciência construida através dos grupos constituidos por negros, assim como é construida com outras etnias. A consciência é a construção dos individuos independente de etnia em especifico.
Aly Soul,
ResponderExcluirFoi bom você ter trazido de forma reforçada uma das tantas problemáticas que eu fiz no texto que é a relação da escola em relação a esse tipo de evento.
Como você mostrou, é bastante complicada a qualidade da educação que recebem nossos alunos. Se os alunos provenientes de contextos sociais mais farovecidos, preparam-se roboticamente para enfrentar um mercado; os alunos oriundos dos contextos menos favorecidos, encontram-se sumbetidos a um programa conteudistico imposto por uma elite e que não dialoga com suas reais necessidades. Tanto de um lado quanto do outro, os alunos só não estimulam o que a educação mais deveria se preocupar que é o senso critico.
Agora eu queria saber de você enquanto professor uma coisa: você acha que o vestibular deixando de ser feito por esse processo seletivo, e sim pelo ENEM, em tempos futuros, a educação se verá mais obrigada a construir no aluno um senso mais crítico?
Digo isso por que eu acho que o ENEM de certa forma, por misturar questões objetivas e subjetivas, provoca a necessidade do aluno exercitar compreender o conhecimento de forma mais critica, como o exercicio da construção do discurso através da escrita, por exemplo. Sem contar que o ENEM tem uma natureza multidiscplinar. Enfim, gostaria de sua opinião a respeito.
Alan,
ResponderExcluirCompactuo com partes de seu raciocinio, mas eu gostaria de dizer que no meu texto, eu não quis dizer que o excesso de carga horária do professor dificulta a relação de aprendizagem estabelecida com o aluno, o que não deixa de ser verdade, porém, o que eu quis dizer especificamente neste texto, é que os professores, por terem cargas horárias excessivas, não conseguem atuar com exclusividade em seus ambientes de trabalho. Por exemplo: no evento como o da Consciência Negra, eles deveriam estar lá, pois os alunos precisam saber que um evento como esse não é apenas uma obrigação escolar, é um exercicio para a sociedade requestionar o seu racismo.
Ou seja, o evento quebra um pouco a razão de ser para o aluno, pois parece mais que é um dos tantos motivos que a escola cria para apenas acrescentar notas na caderneta, e não como algo que possibilita uma revisão mais complexa de nossos valores. Querendo ou não, os alunos têm os professores como referências, e quando esses alunos se apresentam, eles querem mostrar suas pesquisas, suas apresentações também para os professores. Sabe por que? É salutar a presença dos professores, pois os alunos sabendo que os professores estão assistindo suas apresentações, pelo fato dos docentes serem para os alunos, aqueles que lhe servem de referência no ambiente escolar,sentem-se estimulados e importantes nessa batalha acerca da segregação racial. Do contrário, é só mais uma obrigação, até por que nem mesmo os professores com essa postura de se ausentar do evento, conseguem provar o contrário.
"Agora eu queria saber de você enquanto professor uma coisa: você acha que o vestibular deixando de ser feito por esse processo seletivo, e sim pelo ENEM, em tempos futuros, a educação se verá mais obrigada a construir no aluno um senso mais crítico?"
ResponderExcluirA mudança na seleção para a entrada na universidade com a mescla de questões objetivas e subjetivas podem sim vir a mudar esse processo educativo do adestramento legitimado. Porém, a construção de leituras criticas dependem muito mais do que questões subjetivas.
O ensino, como um todo, segue um processo de "idiotização". Os atores e agentes que fazem parte do processo, professor e aluno, são relapsos quanto a educação, absorveram a politica do não pensar. Como já ouvi vários alunos, solicitarem o resumo do que está sendo exposto na aula, ou pedir definições fechadas, sem a preocupação de refletir ou se quer discutir sobre as temáticas e estou me referindo, também, de ensino superior.
A abstração, aspecto importante para a construção da criticidade, fica nos últimos planos. Apresentar conceitos fechadinhos com experiências práticas parece que são a saída para uma centelha de reflexão nesse universo ainda de oralidade, talvez herança do catolicismo, que vive imersa a educação.
Quanto ao ENEM e as questões objetivas e subjetivas são uma alternativa para acender essa centelha.
Aly Soul,
ResponderExcluirReconheço que essa representação que nós construimos a respeito do conhecimento é algo realmente muito cultural. No entanto, essa tradição oral se deve muito mais a um pais que tem pouquissimos anos de história escrita. Além disso, ainda encontramos a questão do próprio contexto industrial marcado pela praticidade produtiva, a qual dificulta bastante reconhecermos a necessidade de refletirmos sobre nossas ações em nosso cotidiano, uma vez que nos fazem robôs, assim como aceitamos muitas vezes a condição de robôs.
Porém, apesar de compactuar com você ao observar que não necessariamente questão subjetiva seja formação crítica, eu acho que querendo ou não, o aluno vai se ver obrigado a exercitar a construção escrita de seu discurso, assim como abdicar um pouquinho acerca do raciocinio das dicas tão bem adaptáveis às provas com questões apenas objetivas.
Por enquanto, o que de fato percebemos é que infelizmente os alunos querem formulas prontas, ao invés de reflexões muito mais abrangentes e complexas; assim como estão muito mais preocupados com as notas do que com a formação critica proporcionada pelo conhecimento e pela aprendizagem.
bjs