quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

É vero amigo Veras?

Dedicado ao meu querido ex aluno e amigo Gabriel Veras

A nossa existência é dolorosa, e por isso mesmo criamos zonas de conforto para amenizarmos a grande merda que já é a nossa própria condição de existir. Não é de se espantar que nós criamos classificações, etiquetas, hipocrisias, aparências, pois elas são como tampas que impedem que a água transborde da panela e façam com que os nossos fantasmas venham a se revelar. Isso é cruel? É vero Veras!!! É muito doloroso.

Por que não morrer? Ora meu caro amigo, simplesmente para vivermos a experiência do que se é estar morto enquanto acreditamos que vivemos! Engana-se ao pensar que a morte é o fim. Ao contrário! A morte é estar vivendo, pois ela é o processo, o vir a ser, o devir. Morrer é estarmos sempre tendo provisoriamente menos um pedaço de alma enquanto achamos existir. Talvez aceitando isso, passamos a entender o que é viver para morrer e morrer para viver.O morrer continuamente cheira vida, ele liberta, é só você aceitá-lo como uma condição inevitável do existir.

Se você mantém a morte como armadilha, você morre de forma ruim por desejar um Ideal que não existe enquanto vida. Morra de forma boa, renascendo, aceitando que se ama porque se trai, que se é feliz porque se chora. Isso garante forças a você, afinal, ser forte não é ter a potência da força, mas sim, a incansável capacidade de ir à lama e reencontrar meios para readquirir essa força, nem que para isso a gente a readquira cheio de hematomas e cicatrizes. Isso é a vida que rejuvenesce e que nos leva. É apenas mais um sonho bom que nos aparece, nos dá afago, nos dá colo, nos consola, mas que mais adiante nos larga e ri do fato da gente se estrepar por ter sonhado.

Caminhos seguros? Isso é vero amigo Veras? Aceite a condição movediça de sermos o que não queremos ser e de não sermos aquilo que dizemos que somos. Brinque de ilusão. A regra é fácil: não há competição, nem vencedor. O que existe são circunstâncias que antes de se definirem enquanto tais, desfazem-se feito areia em nossas mãos. Em nossa frente sempre enxergamos mais água, mas não é água que nós temos, mas temos sede... mas... sede de quê?? Pergunta de miragens. Você nunca irá querer o que tem, mas sim, o que lhe escapa. O lance é aprender a brincar, é aceitar que, apesar da seriedade toda da vida, estamos em meio a uma ilusão que é a própria vida. Crie! Se o que é dito real é ilusão; o que é criado por nós é uma ilusão com cheiro de real.

Você quer respostas? Isso é vero amigo Veras? Mas as respostas levam a dúvidas e dúvidas levam respostas e respostas a mais duvidas... Aceite o seguinte: justamente por ser racional é que você jamais alcançará o real. O real foi distanciado de todos nós a partir do instante em que nós o abstraímos tentando nomeá-lo com uma coisinha chamada linguagem a partir disso que chamamos de razão. É por isso que todos dizem verdades, mas ninguém as tem. O que resta é apenas um buraco negro rondando em todas as almas que se multiplica progressivamente ao infinito. Volto a dizer: brinque, do contrário, vai se definhar em meio a uma vida-cavalo de tróia que te deram sem ao menos você permitir.

Sei que é doloroso reconhecer que não existe porto seguro, nem âncora, mas é a condição rizomática da vida que nos revela o inesperado! Temos que aceitar isso para evitarmos frustrações, excessos de cargas dolorosas na alma por uma coisa que não existe. Não existe isso ou aquilo; o que existe é estar por estar... e nem isso, pois se assim fosse, estaríamos sempre onde pensamos, no entanto, estamos sempre com os pés adiante e nunca satisfeitos com o que temos e com o que somos! É meu caro Veras, no final das contas apenas nomeamos mais um objeto a nossa volta, não por ele representar a verdade, mesmo que assim pensemos, mas por esse objeto ser uma válvula que nos possibilita descarregar toda a angústia resultante do imenso vazio enraizado em nossas almas fruto do existir. É por isso que eu não vejo nenhuma diferença entre um evangélico, um ateu, um maconheiro ou uma criança brincando de boneca. Só muda a apropriação de cada objeto.

Sente-se culpado e angustiado por não cumprir o que muitas vezes promete? Isso é vero amigo Veras? Saiba que a culpa foi mais uma convenção criada e legitimada como lei, porém, quem me garante qualquer pressão em um solo qualquer se estamos em um lugar que convencionalmente nomeamos como planeta terra que é apenas mais um entre as bilhões de infinitas galáxias de uma coisa que nomeamos como universo? Criamos gravidade para evitarmos a imensa dor do vazio que vivemos a pisar. Aí alguns sonham em ter um filho para mostrar aos amigos e para os seus pais; aí alguns sonham em ter e viver para sempre um grande amor, mas tendo tudo isso, tem-se a re-atualização de novas forças e novas potências engendrando novos sonhos e de um filho se quer dois, de um amor se quer três.

Você me pergunta se é dessa insaciável falta que surge a arte? Sim, mas não só ela meu caro Veras. Da falta surge a arte, a filosofia, a punheta, a religião e tudo mais que houver. A gente cria rituais e sonhos para sustentar uma existência que não se sustenta. Só isso. Somos desejantes. Colocamos o pé na frente e o que temos é apenas um adiante pedindo pra ser pisado com sua cara de nostalgia pelo que passou. Reconhecendo isso terminará por exterminar de uma vez por todas as distribuições de valor que a cultura nos obriga a reconhecer hierarquicamente.

Com isso, abdicará de se anular frente aos heróis, pois saberá que não somos heróis em momento algum, a não ser um misto de poder e de privilégio que vive a se afundar na lama. Não passamos de Reis Bostas. Tornar os outros heróis e autoridades, faz com que a gente se compare a eles, e por esquecermos que, apesar de serem referências, são humanos, a gente se fode sozinho sem lembrar que os heróis cagam, fazem merda e vivem uma realidade carente de sentidos como de qualquer detento ou mendigo. Volto a dizer: não existe o melhor ou o pior; o verdadeiro ou o falso, mas sim, os que agem de forma diferente em circunstâncias diferentes.

Sofre com as reprovações que os outros fazem acerca de suas escolhas? Isso é vero amigo Veras? Saiba que esse outro é cheio de frustrações e lacunas na alma e necessita meter o cacete em você para amenizar a grande dor que ele tem por meter o cacete nele próprio todo dia por estar vivo. Tanto você quanto o outro estão à procura da verdade. Portanto, relaxe, portanto, goze, portanto, aceite que o que existem são caminhos à procura de soluções. À procura de soluções e nada a mais. Aceitando isso nós relaxamos mais, passamos a nos cobrar menos, nos ferimos menos com a hipocrisia do outro. Apenas ficaremos a rir, pois saberemos que todos inventam coisas para nós e para eles também porque a ilusão nos obriga a isso.

Tudo isso que acabei de escrever para você significa de fato a verdade do que sinto e de como ajo? Não sei de coisa alguma meu caro amigo. Será que isso é vero amigo Veras? De boas? Acabo por aqui... se é que acabo qualquer coisa...

2 comentários:

  1. "Crie! Se o que é dito real é ilusão; o que é criado por nós é uma ilusão com cheiro de real".

    Meu caro Souza, tomando o que foi exposto em seu texto, chegamos a velha conclusão de que: "As coisas concretas, o mundo objetivo, a estrutura rigida é real enquanto objetividade de uma subjetividade que existe no mundo das probabilidades de suas epifanias, contudo, devemos admitir que as duas premissas são verdadeiras e possuem valores iguais - o sonho e o real se completam na epifania do ser, que ora não não é, ora é, pois é um sendo, um constante e permanente devir ou um movimento perpétuo como tudomais no universo". A aplicação dessa lógica que rompe com a lógica cartesiana e com os modelos atéagora posto pela racionalidade humana, inaugura-se uma razão complexa, que permite ainda mais discussões sobre o que é um "sendo". Muita paz e luz! Bom texto.

    ResponderExcluir
  2. Lucky Club: The Ultimate Las Vegas Casino Site
    Lucky Club is the ultimate Las Vegas Casino site! This place is packed with the hottest slots and table games from luckyclub.live the best game developers in the  Rating: 7.8/10 · ‎3 votes

    ResponderExcluir