quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

INQUIETUDE URBANA

Naquela rua me recordo das pessoas sentadas nas calçadas; Das bocas abertas, das línguas ocupadas, das vidas mal faladas. Naquela rua havia uma mulher; uma velha senhora de ar muito pouco para poder dizer. Sua asma a impedia, ou de noite ou de dia de fazer o que seus irmãos faziam sem o perceberem. Naquela rua abri uma porta para viver com homens. Quando me viram fecharam as suas e se pudessem, a rua. Andei pelo calçamento velho, batido por demais sofrido de suportar o peso de tanta gente. A rua, um dia cansou, protestou, gritou a infâmia humana. Aqui é rua de banana, de coentro, cavalo solto, peão e ninguém segura o vento. O vento que levanta a poeira; a poeira que fere os olhos, os olhos que perdem a visão. Um dia arranquei uma pedra da velha rua. Ela não me disse nada. A guardei em meu baú - uma velha e pesada peça de madeira. A pedra foi esquecida. Mudamo-nos. Fomos para outra rua melhor construída. As casas eram de lei, e as pessoas todas bem parecidas. Não havia gente nas calçadas, nem gritos desesperados nas madrugadas. As coisas eram muito bem arrumadas. Tão arrumadas que o tédio tomou conta de mim. Lembrei-me da pedra da rua velha de gente feia, e da mulher asmática. Joguei-a ao chão limpo e bem varrido e fechei a porta atrás de mim...

3 comentários:

  1. Caro Roosevelt,
    na boa, acho seu trabalho muito maduro consigo ver nele um diálogo entre os contos e ensaios "educacionais" bom, acho que esse meio conceito ficou uma m... porém, não me ocorre nada mais sofisticado.
    cara, relato aqui que fiquei um tempo sem conseguir acessar este blog, fato este que não aceitei acabando por incomodar exaustivamente minha máquina (pc) até ter novamente acesso ao torto, e por quê? porque aprendo bastante principalmente no que tange a questão diálogica que tanto me encanta também. pois, através das tuas reflexões e análises dialogo com as minhas, escrevendo assim parece mera tautologia, entretanto, o que busco é a experiência entãos as favas com tautologias... é isso brother, saudações. ah, uma questão por favor. qual o motivo, de seus textos na grande maioria ocuparem um único parágrafo ? obrigado

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    1. no original eles estão espalhados em vários paragrafos parece coisa do torto.

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  2. Cacete, é incrível como a sua pessoa é capaz de provocar sensações nem sempre agradáveis aos olhos de seus leitores. Na verdade ficamos em uma encruzilhada sem tamanho. Por um lado, a festança e a falta de privacidade; do outro, o silêncio e o tédio. Talvez o fechar a porta atrás de nós seja a necessidade de encontrarmos outras ruas sem gente feia e sem gente bonita, mas qual??

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