quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mais uma Peripécia

Acordou resoluto. Neste dia decidiu-se por um viver contemplativo. Abriu mão de reclamações batidas, desgastadas e gratuitas. Esperou a banheira abarrotar-se. Preparou um banho como não havia preparado há alguns anos – todos estes, aliás, tinham sido no chuveiro.

Saiu de casa e deixou-se admirar com a plenitude do clarão dilucular. Entrou em seu carro e esperou as janelas fecharem-se automaticamente. Respirou a fim de sentir todas as notas daquele perfume de carro zero.
No caminho para a praia contemplou um azul que ainda se insinuava no céu. Deslizou as mãos no volantes ainda intacto, abriu a janela e respirou fundo – exótico e estonteante odor do mar...

Estacionou o carro. Tirou as sandálias e ao passo que sentia doce e lentamente o atrito do prazer arenoso em seus pés, enchia-se de júbilo: perpetuai o gozo desse dia, ó, senhor! Sentou-se levemente para meditar. Do mar parecia efluir toda a pureza breve dos dias. Tinha certeza de que seus sentidos já não o mais enganavam...

Mas houve desarranjo súbito naquele nirvana, e então ele sentiu um calor na espinha – era alguém.
“Aí, minha correntxi! Levanta djivagarinho e entra na porra da mala do carro! Você tá fudjido! Playboy  do caralho!“

O ar então houvera sido contaminado com um forte cheiro de suor do assaltante, o atrito agora era levemente gélido, o cano da arma em sua nuca, o sol até então tímido, agora era  motor do mais cálido inferno.

Por sorte o seguro lhe deu outro carro, após noites e mais noites perdidas com burocracia, e o ladrão apenas um tiro de raspão na perna – efeitos do craque.

A partir de então, acorda sempre irresoluto e cada dia menos sensível.

7 comentários:

  1. Aí é por sua conta, meu caro amigo da baêa!

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  2. Falando sério. O texto diz, assim penso, da inevitabilidade circunstancial. Não se pode crer que, por ter obedecido à ordem insuportável de manter-se seguro durante uma vida inteira, pode-se estar apto a dela abrir mão por um lapso curto de tempo qual seja, através de qualquer senso de merecimento ou esgotamento. Embora seus sentidos não o enganassem, a realidade passou-os a perna impetuosamente. Talvez, numa outra hipótese, ele sorrisse e desse de bom grado seus pertences, achando que era mesmo justo e que compensavam as sensações que obteve durante o período de prazer com a liberdade - versão esta que considero mais cinematográfica...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. As mulheres hoje em dia não dão á luz: cagam idiotas fodidos.
    Concentram-se
    demais em foder, cinema, dinheiro, família, sexo.
    Suas mentes estão
    cheias de algodão.
    Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar.

    Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas.
    Seus
    cérebros estão entupidos de algodão.
    São feias, falam feio e caminham
    feio.
    Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não
    conseguem ouví-la. A maioria das mortes das pessoas é uma zombaria.
    Hoje em dia não sobra nada para morrer.

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  5. e viva ao neoliberalismo
    ops
    este ja acabou
    hahaha
    vc e muito cheio de viadagem e maricagem josue como dizem as pessoas da terra chamada laranjeiras que vou amanha .
    todos nos humanos que estamos neste mundo sofrem. sofrimento e algo que faz parte da vida , para mim n existe diferença do sofrimento do rico como do pobre , as diferenças neste quesito sao muito poucas .
    alan

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  6. "Talvez, numa outra hipótese, ele sorrisse e desse de bom grado seus pertences, achando que era mesmo justo e que compensavam as sensações que obteve durante o período de prazer com a liberdade - versão esta que considero mais cinematográfica..."


    Totalmente de acordo, caro Lou. Eis a tal contingência...

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