sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A relação entre o grêmio estudantil e os alunos do IFAL

Recentemente eu tive a experiência de trabalhar com as turmas do primeiro ano dos cursos técnicos do IFAL Campus Piranhas, o conteúdo referente às instituições educacionais. Aproveitando o assunto, abordamos muitas questões referentes ao IFAL, discutimos as regras, a importância delas e a necessidade de os alunos questionarem-nas. Além disso, abordamos temas referentes ao funcionamento da instituição, questionando os papéis dos alunos, grêmio estudantil e servidores em geral.

O que pude constatar nos debates é que os alunos exigiam direitos e participação do grêmio estudantil para atender aos seus interesses, mas que deixavam clara a falta de informação acerca do papel do grêmio, assim como eram incapazes de se mobilizarem para exigirem seus interesses. Essa falta de mobilização trazia como conseqüência uma relação hierárquica nem um pouco dialógica. Ou seja, as regras eram impostas de cima para baixo sem o consentimento da classe estudantil.

Para que não ficássemos apenas limitados às teorizações e conceitos, fiz questão de trazer para as minhas aulas o grêmio estudantil “Velho Chico” e posteriormente Valdomiro, o diretor de ensino. A necessidade de levá-los para as minhas aulas também se deveu ao fato de eu ter ouvido muitas críticas do alunado acerca da representatividade do grêmio e das imposições das regras da atual gestão, além de conhecer as razões e as dificuldades dessas outras esferas que compõem o instituto.

Com o grêmio estudantil nas salas de aula, o que pude constatar foi que os alunos reclamaram em geral acerca dos problemas referentes à comunicação. Disseram que as informações quando eram publicadas já haviam muitas vezes passado do tempo e eles só ficavam sabendo depois das questões que haviam sido decididas pelo grêmio. O grêmio mostrou que utilizava os murais para divulgar seus projetos, mas que os alunos ou não liam ou até mesmo tiravam os informes do mural.

Quando Valdomiro, o diretor de ensino entrou nas salas de aula, ouviu muitas dúvidas dos alunos sobre algumas questões que andavam sendo tramitadas pela gestão. Perguntaram acerca de muitos pontos de interesses para eles como a questão do uso da quadra, a ideia insensível de se utilizar a biblioteca como um espaço punitivo para os alunos que não poderiam frequentar certas aulas por questões de atraso, por circunstâncias particulares, dentre outras.

Com relação ao grêmio estudantil, foi exposto um slider mostrando a história do grêmio, quais os papéis e limitações do grêmio, as funções de cada integrante da chapa, etc. Na hora do debate o que foi detectado é que a maioria dos alunos sequer sabia dos integrantes do grêmio, além de muitos confessarem não saber da existência do grêmio no IFAL. O que percebi é que os alunos esperavam ações do grêmio, mas se mostravam pouco dispostos a dialogarem acerca de seus interesses com o grêmio.

Apesar do pouco tempo na aula de sociologia, eu achei que a relação dos alunos com Valdomiro deixou a desejar. Ao invés de travarem questionamentos sobre o porquê da não participação deles na elaboração das regras; perguntas sobre as possíveis dificuldades da gestão estabelecer diálogo com os alunos e os alunos com a gestão, os discentes simplesmente se contentaram em buscar informações e curiosidades acerca das decisões que estavam sendo tomadas pela gestão.

Com isso, passei a formular algumas questões. Quais causas faziam com que os alunos não soubessem da existência, nem da função do grêmio? Por que os alunos exigiam tantas ações do grêmio, mas não participavam dele? O que levou os alunos no debate com Valdomiro se preocuparem muito mais com as informações acerca do que andava sendo decidido entre a gestão do que em questionar a não participação dos alunos na formulação das regras que são impostas para eles?

A falta de conhecimento se deve à falta de comunicação entre o grêmio e o alunado e vice e versa. No entanto, essa falta de diálogo decorre do fato do IFAL organizar seus horários de aula que dificultam a relação de diálogo entre essas duas esferas. Pela manhã os alunos têm aula das 07:00 às 12:20, tendo apenas um intervalo de 20 minutos entre 09:30 até 09:50. No turno vespertino os alunos têm aula de 13:00 às 18:20, tendo um intervalo de apenas 20 minutos entre 15:30 até 15:50.

Outro ponto diz respeito à falta de consciência política dos professores. Muitos chegam a “bater a porta na cara” dos integrantes do grêmio quando eles vão passar algum informe acerca do grêmio nas salas. Sem contar uma falta de hábito com a leitura que faz com que os informes nos murais passem despercebidos pelos alunos, além da própria falta de formação política que não os faz enxergar a importância do que se anda sendo exposto inclusive no grupo do grêmio no facebook.

Por que os alunos cobram do grêmio e não participam? A nossa cultura política é caracterizada pelo paternalismo. Os alunos ficam à espera que o grêmio faça tudo ao invés de construírem uma participação conjunta que atendam aos seus interesses. Por não terem exercício político de participação, os alunos, muitas vezes como forma de eximirem da culpa por não buscarem se manter informados, jogam todos os problemas para o grêmio, buscando com isso, livrarem-se das suas responsabilidades.

Por que os alunos se preocupam muito mais com as informações acerca do que anda sendo decidido entre a gestão do que em questionar a não participação deles na formulação das regras que são impostas para eles? Um ponto se refere à escassez de espaço que eles têm em dialogar com a gestão. No pouco momento que lhe resta, eles buscam se atualizar acerca das questões que andam sendo decididas. Outro ponto diz novamente a falta de formação política. Muitas vezes eles na sabem questionar o poder.

Outra coisa: o aluno por viver em meio a uma organização política autoritária, muitas vezes tem medo de questionar. Esse temor em produzir indagações acerca das imposições das regras termina trazendo um resultado muito nefasto que é a naturalização da hierarquia. Ao invés de questionarem o porquê deles não terem o direito a participar das decisões que implicam o lugar deles no instituto, eles optam em aceitar o papel das decisões com a gestão naturalizando a relação opressor x oprimido.

Cabe a nós tentarmos produzir algumas indagações para que possamos encontrar caminhos que façam com que essas hipóteses sejam alteradas. Como o grêmio pode encontrar algum caminho para se comunicar com os alunos que possa conciliar o excesso de aulas, a não-aceitação de alguns professores com a sua entrada em sala de aula? Quais outros caminhos são possíveis para motivar o diálogo dos alunos com o grêmio que não apenas os murais e redes sociais?

Quais estratégias são possíveis para que os alunos deixem de enxergar a política de forma paternalista e infantilizada e passem a perceber a sua importância na participação política conjuntamente com o grêmio estudantil? Quais são os caminhos capazes de fazer com que os alunos deixem de temer sua participação e seu exercício reivindicativo? Como se quebrar essa relação hierárquica caracterizada por fortes doses de autoritarismo que pelo temor, os alunos terminam por naturalizar?

Devemos também construir indagações que, apesar de nefastas, podem não fugir de um plano real. Será que os alunos ficam apenas a cobrar por questões de comodismo? Será que os alunos cobram, mas eles não possuem interesse em mudar? O aluno se encontra interessado em resolver questões coletivas ou questões individuais que atendam aos seus interesses egoístas? Será que não é devido a isso que encontramos uma dificuldade de mobilização por parte da classe estudantil?

Apesar de essas questões soarem pessimistas, por via da reflexão e de estratégias, podemos alterar essa realidade. Cabe a nós tecermos outras perguntas. Como fazer o aluno sair do seu lugar de acomodação para se tornar um sujeito atuante? Como mostrar aos alunos à importância de se mudar a realidade das coisas? Como fazer com que eles busquem seus interesses particulares sem perder o senso de coletividade? Quais caminhos seriam possíveis para se motivar a mobilização entre eles?

Eu gostaria apenas de complementar com algumas observações. O grêmio como um espaço de representatividade dos alunos é de grande importância. Não podemos pensar em uma educação que tem como interesse promover a formação do aluno enquanto um sujeito crítico e ético, sem pensarmos no papel do grêmio para essa formação. De uma vez por todas nossos discentes precisam exercitar seu papel político para com isso saber reivindicar e exigir o seu lugar no mundo.

4 comentários:

  1. "Por que os alunos cobram do grêmio e não participam? A nossa cultura política é caracterizada pelo paternalismo".

    "Outra coisa: o aluno por viver em meio a uma organização política autoritária, muitas vezes tem medo de questionar".

    "Como fazer o aluno sair do seu lugar de acomodação para se tornar um sujeito atuante?"

    "Não podemos pensar em uma educação que tem como interesse promover a formação do aluno enquanto um sujeito crítico e ético, sem pensarmos no papel do grêmio para essa formação".

    Em primeiro lugar meu ilustre amigo e educador, não posso mais chamá-lo, de professor, o amigo transcedeu e o vírus freireano está em você. Isso que você faz chama-se educação.

    Segundo acredito que a sua resposta está em seu trabalho, no momento que amigo tentou ouvir a fala do aluno, logo percebeu que nossas (minha e sua) tem fundamento e sentido - como diz Freire: "Eles não tem fala - o discurso do dominador está hospestado neles, ora no medo de dizer, ora na indiferença de fazer, é que chama de querfazer. A praxis pedagógica precisa do que fazer.

    Os temas geradores estão aí, trabalhe sobre ele explore-os o alunos ao poucos perceberão que são também responsáveis por aquilo que criticam e reclamam. Essa relação assimétrica entre as partes confirma nossas (Minha e sua).

    Os temas geradores que sugirão dos debates em saula de aula tanto despertarão uma reflexão sociológica como um encontro com ser sendo sujeito alienado. Desperte-os, acorde-os, diga-lhes que são tão culpados naquilo que cobram do poder quanto o próorio poder. Devolva -lhes a fala e o sujeito sugirá. Um abraço e parabéns pelo seu trabalho. Estou ansioso para te ver, com muita saudades e cheio de coisas para discurtirmos. Um beijão!



    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Roosevelt,

      É isso mesmo meu caro. Cada dia mais eu concordo que a educação só surtirá efeito enquanto revelação do sujeito enquanto consciência a partir do diálogo. Porém, como você bem salienta, esse diálogo não parte apenas de uma troca de ideias. Para essas ideias sejam trocadas e traduzidas, devemos compreender as razões dos alunos, assim como seus anseios e vontades. Fico muito feliz de receber um belíssimo comentário de uma educador do qual me orgulho bastante. Também estou com saudades de sua pessoa meu dileto pai Joaquim rsrs. Beijos

      Excluir
  2. Desculpe as omissões de palavras, mas, escrever com zoada é um chute no saco.

    ResponderExcluir
  3. Fique atento no torto pois vem mais coisas interessantes para gente ruminar.

    ResponderExcluir