Cotidianamente nos deparamos com uma quantidade infindável de pontos de vista. Em se tratando do contexto atual no qual as culturas extrapolam com maior velocidade os domínios circunscritos de suas fronteiras, é inevitável encontrarmos uma pluralidade de concepções de mundo formando uma cultura múltipla. As trocas estabelecidas principalmente pelos novos meios de comunicação têm propiciado isso.
Porém, paralelo a essa miscelânea de infinitas identidades e de culturas oriundas de todas as partes do planeta, encontramos formas de preconceitos e de segregações bastante marcantes em nosso dia a dia. Os mesmos meios de comunicação que projetam várias culturas, são os mesmos que são gerenciados e comandados por setores dominantes que buscam a partir desses meios, impor seus pontos de vista.
Ao mesmo tempo em que os discentes se vêem educados por esses meios de comunicação, sendo apresentados a uma diversidade de culturas e submetidos a discursos tendenciosos; o ambiente educacional não permite o convívio com a diversidade e peca em se preocupar em ensinar ao aluno um modelo de conhecimento, não permitindo que esse aluno crie sentido e produza novos conhecimentos.
Este texto se propõe a mostrar como a Sociologia no ensino básico, através dos conteúdos referentes à cultura, pode permitir com que os discentes atinjam de forma crítica um olhar acerca da diversidade e do poder contido na sociedade a partir das colagens surrealistas. Além disso, mostrar a possibilidade de fazer do ambiente escolar, um espaço voltado para a autonomia e para a liberdade dos alunos.
Quando eu uso o termo crítico, eu estou me referindo a um posicionamento consciente do discente acerca da sociedade e do mundo em que vive. Ter criticidade significa possuir capacidade de pensar de forma autônoma. Para que essa autonomia seja concretizada, é imprescindível que o ambiente escolar estimule a liberdade do pensamento para que o aluno seja capaz de criar seu próprio ponto de vista.
A Sociologia foi escolhida como a disciplina para efetuar essa aplicação das colagens surrealistas, primeiro por que atuo como professor nessa área, além de ter formação acadêmica nela; segundo por que a sociologia tem como objetivo provocar uma mudança de olhar acerca da sociedade, tornando esse olhar mais crítico. Além disso, ela busca provocar o exercício da convivência com a diversidade.
A escolha referente à cultura se deve ao fato dela não só ser marcada por essa diversidade por ser resultante das trocas estabelecidas entre diversos povos e diversos meios sociais; como também a cultura passa pelos processos sociais dissociativos como os conflitos, os quais são provenientes da relação que a cultura também estabelece com as diversas formas de poder instituídas na sociedade.
As colagens surrealistas são importantes como estratégias nos conteúdos referentes à cultura, pois como esses conteúdos trazem de forma recorrente em sala de aula as discussões acerca da diversidade e do poder, com as colagens surrealistas essas discussões podem ser visualizadas enquanto prática nas dinâmicas propostas no ambiente escolar ao fazermos usos delas nas aulas de Sociologia.
Como a colagem surrealista tem o objetivo de provocar o estranhamento do sujeito a partir do instante em que ela favorece o deslocamento das imagens ou de qualquer espécie de texto, retirando-os de seus sentidos originários, através dos recortes, no omento em que esses recortes forem feitos pelos discentes, eles mesmos vão combinar os sentidos da forma que eles quiserem.
Ao fazerem suas próprias combinações, a diversidade e o poder são visualizados, pois no momento em que os discentes fazem suas próprias colagens, perceberão que cada colega manifestou sua opinião de forma diferente. Ao perceberem que os discursos podem ser desmontados, reconhecerão que não existe um discurso “verdadeiro”, notando com isso, as relações de poder existentes na cultura.
Levando-se em conta que a Sociologia, assim como a educação em geral, precisa estimular o senso crítico do discente, é notório que a colagem surrealista, além de revelar na prática a diversidade e o poder contidos na cultura, abre caminhos para a prática da liberdade e da autonomia do discente; podendo fazer da Sociologia uma disciplina emancipatória e não reduzida a meras transmissões conceituais.
Acredito que este tema pode garantir mais uma alternativa para que o aluno enquanto um ator integrado à sociedade possa repensar o seu olhar em relação à diferença, encontrando assim, um novo caminho para exercitar seu convívio com o outro, construindo com isso, um olhar mais altero. Essa alteridade pode ser um caminho para se romper com a intolerância, encontrando estratégias de respeito com o outro.
Além disso, o discente enquanto ator social pode passar a suspeitar de certos discursos ideológicos trazidos pelos meios de comunicação, deixando de vê-los como algo “natural” e “absoluto”. Isso é de significativa importância, visto que a sociedade marcada pelo anseio da cidadania pede a esse indivíduo o exercício da participação política e da consciência de suas reivindicações enquanto sujeito ativo na esfera pública.
Fazendo uma análise mais fecunda acerca desse tema, o ambiente acadêmico pode rever sua posição acerca do papel da Sociologia no ensino médio o qual tem ainda se limitado aos conceitos. Com o uso da colagem, os educadores e pesquisadores poderão observar que ela pode contribuir para uma inovação na dinâmica da disciplina, assim como perceberem que a finalidade da disciplina pode ser realizada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário